domingo, 31 de janeiro de 2010

Ordenação de mulheres II

De alguma forma, sempre pressenti que a aprovação da ordenação feminina se baseava, em última análise, num desejo de introduzir na Igreja de Deus a confusão de papeis sexuais que tem dominado os valores da sociedade moderna. É a conformação a este século contra a qual a Bíblia nos adverte.

Para mim, a descoberta mais importante proporcionada por essa leitura não é a de que a ordenação feminina é contrária à vontade de Deus - verdade que, felizmente, já "nasci sabendo" -, e sim a de que existiu na Igreja primitiva um erro muito semelhante, quanto a essa questão, ao que hoje nos ameaça, e foi isso que motivou certas declarações feitas por Paulo em suas epístolas. Esse fato demonstra que a confusão ou inversão acima mencionada não é um fenômeno moderno por excelência, e sim uma tendência pecaminosa inerente à natureza humana decaída. Como se observa, aliás, no próprio relato bíblico da Queda.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Nem Marx nem Jesus

Meus comentários a esse potencialmente interessante livro do filósofo francês Jean-François Revel sobre o que ele denomina "segunda revolução americana" começam com algumas palavras sobre o prefácio escrito pela esquerdista americana Mary McCarthy e a resposta do próprio autor. Publiquei essa reflexão inicial em meu blog.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

The fractal geometry of nature XI

Não pude deixar de dizer, neste último comentário sobre essa obra, que é o melhor livro de matemática que já li na vida; dentre outras razões, por ser muito mais que um livro de matemática: é uma apresentação apaixonada das convicções do próprio autor, plenamente consciente da importância de suas contribuições à matemática e às ciências. Além disso, é uma obra bem-humorada e bastante pessoal, como raramente são as publicações científicas. Que autor de livros científicos incluiria em seu livro duas figuras geradas por programas que continham um erro, sem outra razão além da beleza do resultado equivocado? Que cientista confessaria (como Mandelbrot fez, usando outras palavras), ao comentar uma figura, que a incluiu no livro apenas por ter se afeiçoado a ela, embora não tenha utilidade alguma? Esse livro foi escrito com muito carinho. Demonstra-o todo o seu conteúdo, do prefácio aos agradecimentos. Sua leitura me convenceu de que não vale a pena escrever coisa alguma de outra maneira.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ordenação de mulheres

Essa obra foi publicada em 1997, simultaneamente como livrinho e como artigo na revista Fides Reformata. Lembro-me de que cheguei a dar início à leitura do artigo, mas por alguma razão acabei não a concluindo. Talvez tenha sido porque jamais tive dúvidas reais e pungentes quanto ao assunto tratado, que é o da legitimidade da ordenação de mulheres como pastoras e presbíteras.

O pastor Augustus se posiciona com firmeza contra essa prática, argumentando que o ensino do Novo Testamento é claramente contrário a ela. Não se trata de uma análise exaustiva, mas ela encara sem rodeios as principais questões textuais e hermenêuticas envolvidas na correta interpretação das passagens neotestamentárias mais importantes. São elas: 1. Romanos 16.7, que, segundo os defensores da ordenação feminina, menciona uma apóstola; 2. Gálatas 3.28, que afirma que "não pode haver [...] homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo"; 3. Atos 2.1-4, em que Pedro recorda o texto de Joel quanto ao ofício profético exercido por mulheres que receberam o Espírito no Pentecoste; 4. 1 Coríntios 11.3-16, a polêmica passagem sobre o uso do véu no culto e a questão da autoridade; 5. 1 Coríntios 14.33-38, em que Paulo proíbe que as mulheres falem nos cultos; 6. 1 Timóteio 2.11-15, em que Paulo argumenta, com base no relato bíblico da criação, que as mulheres não devem exercer autoridade sobre os homens na igreja. O texto traz ainda uma defesa da autoridade universal do ensino de Paulo e sua consequente relevância para a igreja de hoje.

O opúsculo tem ainda maior valor por trazer interessantes indicações bibliográficas, por meio da quais o assunto pode ser consideravelmente aprofundado. A mais importante delas parece ser a coletânea Recovering biblical manhood and womanhood: a response to evangelical feminism, organizada por John Piper e Wayne Grudem, com contribuições de Paige Patterson, Thomas Schreiner, D. A. Carson e Douglas Moo, entre outros.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

The fractal geometry of nature X

Escrevi um post sobre algo interessante que aprendi lendo esse livro: a ideia de objetos com número não-inteiro de dimensões. Porém, o texto ficou um pouco longo. Publiquei-o, portanto, em meu outro blog.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Uma campanha: Crentes esquerdistas, leiam os autores conservadores!

Desde que abri meu blog, dada a fraquíssima performance dos esquerdistas ali - gente que usa "conservador" como xingamento e que, portanto, não tem a mínima condição de debater dignamente - , vou lançar aqui uma campanha: Crentes esquerdistas, leiam os autores conservadores! E comecem por Edmund Burke, considerado por muitos como "o pai do conservadorismo". Quem me inspirou a abrir essa campanha foi Conor Cruise O'Brien, o autor da introdução à obra de Burke, Reflexões sobre a Revolução em França. E olhem que ele nem concorda com a leitura que um dos mais importantes autores conservadores, Russel Kirk, faz de Burke. Mas afirma ele que esse livro é "o primeiro manifesto contra-revolucionário moderno" e que os esquerdistas deveriam lê-o, mas não o fazem (p. 30):

O direitista inteligente não se pergunta as razões para ler Marx ou os marxistas. Ele os lê porque são obras importantes e ele está no lado oposto. (...) Ele aprende dos seus adversários sobre as fraquezas e as forças de sua posição - e também as do outro lado. Já o intelectual de esquerda, apesar de notáveis exceções, tem uma grande tendência a negligenciar seus adversários e até mesmo a evitar seus escritos mais influentes. Isso é associado, acredito, a outra característica marcante da esquerda, ou seja, não entender ou subestimar as forças opostas. De fato, a esquerda deveria ler as Reflexões tão atentamente quanto a direita tem lido o Manifesto Comunista.

Eu acrescentaria outra característica: a adesão à esquerda é vivida por muitos como uma fé religiosa do tipo sectária. Por isso, os adversários são demonizados e, assim, banidos do horizonte de convívio e leituras.

Ora, não sejam assim, cristãos de esquerda. Vocês pertencem à igreja verdadeira, a de Cristo. Deixem de coisa e leiam Burke. Leiam, leiam.





sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Poemas de amor, poemas de guerra IX

Depois de ter passado por mais de cem interessantes páginas de exposição das concepções literárias de Meschonnic e de como elas se refletem em seus próprios poemas, além de comparações com as ideias de diversos outros autores (como Charles Baudelaire, Walter Benjamin, Martin Buber, John Ellis e René Girard), cheguei, enfim, à conclusão, que introduz no trabalho uma guinada surpreendente e, em minha opinião, mais interessante ainda. A Norma apresenta o assunto de modo muito pessoal, confessando que o esforço de pesquisa gerou nela duas "perplexidades".

A primeira delas converte-se numa crítica ao mundo acadêmico das letras pelo predomínio, em seu meio, de uma defesa exacerbada do subjetivismo e do relativismo, como se a verdade fosse uma limitação à arte. Esse é um dos dualismos desnecessários e nocivos que Meschonnic, a despeito de suas posições algo pós-modernas, procura combater. Tais considerações reforçam minha convicção de que cada ramificação do mundo intelectual institucionalizado possui suas tentações características: a dos literatos parece ser a de não dar valor a nada que não seja ficção, assim como a dos físicos é a de só dar valor ao que é passível de experimentação e quantificação.

A segunda perplexidade, por sua vez, diz respeito ao desejo de compreender a natureza da relação entre nossa sede pela transcendência e o valor que atribuímos à arte. Diz a Norma: "a ênfase de Meschonnic no desconhecido inerente ao poema, e em seu poder transformador centrado na abertura do sentido, parece evocar algo como uma função mística, quase religiosa, para o poema". Sobre isso, meu desejo por compreensão é tão intenso quanto o da Norma. Parece-me que o mundo secular moderno encontra na liberdade da arte um sentido pseudorreligioso que traz certa compensação pela falta de uma religião autêntica. Talvez seja só mais uma manifestação da tendência quase universal da religião do homem decaído para um misticismo irracionalista.

Aproveitando que a autora da tese é também co-autora e leitora deste blog, além de minha noiva, quero aproveitar para parabenizá-la pelo trabalho e dizer que sua leitura me foi muito agradável e proveitosa. :-)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

The fractal geometry of nature IX

Sendo esse um livro destinado a demonstrar que a geometria fractal, longe de ser mera abstração típica dos matemáticos, é de imensa utilidade como descrição do mundo físico, seu autor acabou listando uma porção de aplicações, extraídas tanto da natureza quanto das obras humanas. Se não me esqueci de nenhum, os exemplos mencionados no livro são os seguintes: a medida do perímetro de ilhas ou a extensão de fronteiras irregulares e costas marítimas; a frequência de erros na transmissão de dados; a distribuição de galáxias pelo espaço; o comportamento de fluidos turbulentos; a relação entre dados fluviais, como a extensão dos rios e a área das respectivas bacias hidrográficas; a medida da área dos tecidos cerebrais dos mamíferos e seu modo de compactação; o crescimento e a ramificação de árvores e plantas; as colisões de partículas subatômicas nos aceleradores de alta energia; as propriedades dos cristais líquidos (substâncias que, sob dadas condições apresentam a mobilidade dos líquidos mantendo as propriedades ópticas dos cristais); os sistemas dinâmicos com comportamento caótico (assunto da minha iniciação científica); o movimento browniano e fenômenos relacionados (trata-se do movimento de agitação perpétua que partículas suficientemente pequenas apresentam em meio líquido); o formato de continentes, canyons, montanhas e outras estruturas geológicas, bem como superfícies rugosas em geral, inclusive em escala microscópica; as crateras lunares e outros traços de relevo associados à queda de meteoritos; a variação dos preços das mercadorias e serviços ao longo do tempo; e a frequência das palavras em função de seu tamanho e outras variáveis, em diversos idiomas. Impressionante, não?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Poemas de amor, poemas de guerra VIII

Não pude deixar de perceber alguns notáveis pontos de convergência entre as concepções sobre literatura e poesia de Meschonnic e as de T. S. Eliot, o controvertido poeta, dramaturgo, editor, crítico literário e filósofo anglo-americano que conseguiu, com sua poesia, desagradar tanto os modernos por seu arcaísmo quanto os classicistas por seu vanguardismo. (C. S. Lewis, por exemplo, estava incluído nessa segunda categoria de desagradados.) Sua obra é digna de muitos elogios e ressalvas, mas considero-a genial pela forma com que sintetizou as influências mais díspares, de Dante a Ezra Pound, de F. H. Bradley a Bertrand Russell, da Bíblia ao Bhagavad Gita. Tudo isso o coloca, creio eu, do mesmo lado que o crítico e poeta francês, ou seja, contra a oposição comumente sustentada entre tradição e ruptura.

Outra semelhança entre as preocupações literárias desse dois poetas-críticos é a ênfase sobre as limitações da comunicação, a insuficiência das palavras enquanto veículos de pensamentos e estados da alma. No caso de Eliot, tais preocupações são bem visíveis nos Four quartets, e Ivan Junqueira discutiu essa questão em sua interessante (mas, para mim, difícil) análise Eliot e a poética do fragmento, que li há mais de dois anos. Se bem me lembro, porém, Eliot não sucumbiu à tentação pós-moderna de se regozijar com as deficiências da linguagem humana. Tenho a impressão de que para ele, bem ao contrário do que ocorre com Meschonnic, o problema da comunicação era de fato um problema, não uma solução. Mas para me certificar de que não estou dizendo bobagens eu teria de estudar a obra de Eliot com mais cuidado.

Desconfio que tais convergências entre esses dois homens de países, idiomas e gerações diferentes indicam algum fato sobre a literatura europeia do século XX cuja generalidade nunca cheguei a perceber simplesmente porque sou um ignorante em matéria de literatura estrangeira: a pouca que conheço é quase toda inglesa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

The fractal geometry of nature VIII

Esta postagem tem, de certa forma, relação com a anterior sobre o mesmo livro. Mandelbrot faz um comentário que dá o que pensar sobre a capacidade dos matemáticos de julgar o valor do trabalho dos colegas, ou mesmo do seu próprio. (Não vejo razão, aliás, que me impeça de estender a mesma consideração a todas as categorias de cientistas.) Esse trecho aparece logo depois de o autor contar que o brilhante matemático francês Paul Lévy demorou 25 anos para publicar uma importante descoberta por julgá-la sem grande valor, já que sua demonstração era muito simples. A fim de compreender adequadamente o trecho a seguir, convém ter em mente que, em linguagem matemática, os lemas são uma categoria de teoremas cuja demonstração é mesmo relativamente fácil, e geralmente são enunciados como parte da demonstração de teoremas no sentido pleno da palavra, que são mais complexos.

"A propósito de resultados que são 'simples demais para ser publicados', a frase aparece com frequência nas coletâneas de trabalhos de Lévy. Muitas mentes criativas superestimam seus trabalhos mais barrocos e subestimam os mais simples. Quando a história inverte tal julgamento, escritores prolíficos passam a ser mais lembrados como autores de 'lemas', de proposições que eles haviam considerado 'simples demais' em si mesmas e as publicaram apenas como prelúdios a teoremas esquecidos."

domingo, 3 de janeiro de 2010

Teologia sistemática

Relacionado a um assunto sobre o qual estou escrevendo para uns novos amigos virtuais, este post traz uma interessante citação de um dos grandes teólogos reformados do século XX, Louis Berkhof. O trecho a seguir se encontra em sua célebre Teologia sistemática, na parte A doutrina de Deus, subdivisão O ser de Deus, capítulo Os atributos comunicáveis, seção Atributos intelectuais, subseção O conhecimento de Deus, item Sua extensão. Essa lista, aliás, demonstra por si só o talento do holandês para a sitematização.

"Contudo, há uma questão que requer discussão especial. Refere-se à presciência de Deus quanto às livres ações dos homens e, portanto, dos eventos condicionais. Podemos entender como Deus pode ter conhecimento prévio onde a necessidade domina, mas achamos difícil conceber um conhecimento prévio de ações que o homem origina livremente. A dificuldade deste problema levou alguns a negarem a presciência das ações livres e outros a negarem a liberdade humana. É perfeitamente evidente que a Escritura ensina a presciência divina de eventos contingentes. Além disso, ela não nos deixa em dúvida quanto à liberdade do homem. O certo é que ela não permite a negação de nenhum dos dois termos do problema. É-nos levantado um problema aqui, que não podemos resolver plenamente, conquanto seja possível aproximar-nos de uma solução. Deus decretou todas as coisas, e as decretou com as suas causas e condições na exata ordem em que ocorrem; e Sua presciência das coisas e também dos eventos contingentes apóia-se em Seu decreto. Isto soluciona o problema no que se refere à presciência de Deus.

Mas agora surge a questão: a predeterminação das coisas é coerente com o livre arbítrio do homem? E a resposta certamente é que não é, se se considerar a liberdade da vontade como indifferentia (arbitrariedade), mas não há base segura para esta concepção da liberdade do homem. A vontade humana não é uma coisa inteiramente indeterminada, uma coisa solta no ar, que pode pender arbitrariamente numa ou noutra direção. Ao invés disso é uma coisa arraigada em nossa natureza, ligada aos nossos mais profundos instintos e emoções, e determinada por nossas considerações intelectuais e por nosso próprio caráter. E, se concebemos a nossa liberdade humana como lubentia rationalis (autodeterminação racional), não temos base suficiente para dizer que é incoerente com a presciência divina. Diz o dr. Orr: 'Há uma solução para este problema, embora as nossas mentes não consigam captá-la. Provavelmente ela está, em parte, não em negar a liberdade, mas numa concepção revista da liberdade. Pois, afinal de contas, liberdade não é arbitrariedade. Em toda ação racional há um porquê para agir – uma razão que decide a ação. O homem verdadeiramente livre não é o homem incerto e imprevisível, mas o homem seguro, confiável. Em resumo, a liberdade tem suas leis – leis espirituais – e a Mente onisciente sabe quais são. Mas, deve-se reconhecer, permanece um elemento de mistério'."